Monthly Archives: July 2008

Instantaneidade jornalística no Twitter

Na tarde de ontem, aconteceu um terremoto em Los Angeles de 5,4 pontos na Escala Richter. Abstraindo um pouco a parte trágica da coisa (na verdade, só houve danos materiais; ninguém ficou ferido), o interessante foi que, ao menos desta vez, foi possível ter uma boa noção geral do quanto o Twitter pode ser ágil como meio de comunicação nessas situações.
De acordo com o blog do Twitter, as primeiras atualizações sobre o terremoto teriam levado segundos para aparecer no microblog (em contraposição, o despacho da AP sobre o terremoto só foi ser emitido 9 minutos depois do acontecimento). Pouco tempo depois, a conta da Cruz Vermelha no Twitter já enviava dicas de como enfrentar a situação para possíveis atingidos pelo terremoto (um uso bem interessante da ferramenta, como apontou o Tiago Dória, considerando que se pode receber as atualizações pelo celular).
Twitter Earthquake Twitscoop
Twitscoop – busca pelo termo “earthquake” nos últimos 3 dias
A quantidade de atualizações também surpreendeu (vide gráfico acima). Teve até uma mulher que fez, digamos, uma cobertura bem pessoal do terremoto, e acabou virando um meme espontâneo no Twitter.

Curiosidade: a CNN tentou postar 20 minutos após o terremoto, mas a micronotícia acabou sendo atrasada por uma atualização no servidor. E o mais interessante é que pediram desculpas pelo atraso!

Bônus: também há vídeos interessantes do terremoto no YouTube (via newsblog).

Google Knol

knolO Google finalmente abriu o Knol para o público – ele estava em beta fechado desde dezembro do ano passado. Em linhas gerais, o Knol seria uma espécie de enciclopédia colaborativa online, mas com autoria identificada, concorrência entre autores, possibilidade de lucro, e busca por reputação – praticamente uma Wikipedia sem a horizontalidade inerente ao formato wiki.
O blog ReadWriteWeb comparou o sistema do Knol com o Mahalo. A diferença é que no Mahalo a disputa é por fornecer o maior número de links sobre um determinado tópico apontando para fontes diferentes. No Knol, distorções podem acontecer (tipo uma página em que todos os links – surpresa! – apontam para o site do criador da entrada). Além disso, pelo fato de que o usuário pode lucrar, com sua própria conta no AdSense, a partir das páginas que disponibiliza no Knol, pode-se esperar uma disputa acirrada pelos artigos mais populares. E o Google vai ter que encontrar uma maneira de lidar com o spam. Mais um pouquinho e já aparecerão “especialistas” em SEO bolando estratégias para lucrar com definições estratégicas.
Da Ajuda do site: o Knol é um site que hospeda vários “knols”, ou, unidades de conhecimento (“knowledge”, em inglês). A participação do usuário não se limita a escrever textos: pode-se comentar, avaliar e sugerir informações relacionadas. Ou então escrever outros textos sobre o mesmo tópico e deixar a comunidade decidir qual é o melhor. A idéia é que os demais usuários possam ajudar a avaliar a qualidade e a veracidade das informações prestadas. O autor da entrada escolhe a licença que dará ao conteúdo (CC com atribuição, CC com atribuição e para fins não comerciais, ou copyright) e se irá convidar outros autores, ou manter seu conteúdo fechado.
Os textos são submetidos aos Termos de Serviço e à Política de Conteúdo do site. Afora isso, não há nenhuma espécie de edição por parte do Google – a proposta é que os próprios usuários, aos poucos, com sua participação, ajudem a separar o joio do trigo, o conteúdo bom do meia boca.
Por enquanto, o único conteúdo externo que pode ser acrescentado aos knols são cartoons da revista New Yorker (?). Aos poucos, o serviço irá firmar parcerias com outros sites. É de estranhar o fato de que ainda não é possível acrescentar vídeos do YouTube…
O Know não é tão colaborativo quanto um wiki (mesmo assim, algumas iniciativas de colaboração já começam a aparecer). Mas com um sistema de votos a la Digg (Google está por comprar o Digg) poderia ficar bem bacana 🙂
Resta saber como se dará a apropriação social da ferramenta. Muito provavelmente usos inventivos surgirão à medida que a base de usuários aumente.

Assunto paralelo: falando em projetos abertos ao público, o socialmedian anuncia que irá migrar de alfa privado para beta público em pouco tempo. Trata-se de um projeto interessante, para compartilhamento de notícias e informações, mas que só terá graça mesmo quando mais pessoas conhecidas passarem a usá-lo.

Obs.: os links para o Knol foram devidamente ‘relnofollowados’ 🙂

Sobre a Tina

Demorei um pouco para aceitar a morte da Tina. Vi o post do marido dela assim que ele apareceu em meu Google Reader, mas esperei algum tempo para me manifestar. Vai ver eu tinha entendido mal ou algo parecido. Como assim a Tina tinha falecido dois dias antes de seu aniversário? Simplesmente não fazia sentido.
Quando apareceram os primeiros comentários ao post, vi o quanto a situação era séria. Ontem no Twitter, em um momento de catarse coletiva, diversos tipos de sentimentos afloraram com relação ao acontecido. E embora alguns tenham tido reações infantis, muitos lamentaram o ocorrido.
Pelo fato de ela freqüentar vários blogs, ela era odiada por uns, tolerada por outros, e amiga de muitos. Nesses últimos anos, a Tina Oiticia Harris constituiu uma parte importante da blogosfera. Era incrível como alguém conseguia comentar diariamente em tantos blogs, relacionar-se com tanta gente. A Tina era alguém que, apesar de conviver com diversos problemas de saúde, via na blogosfera uma válvula de escape e uma maneira de se socializar, de se sentir entre iguais. E sua participação não se limitava só a comentar em blogs. Ela enviava mensagens pelo Twitter, e-mails com recomendações de posts, também trocávamos links no del.icio.us (era a Rede Anarchic_Universe no del.icio.us, como ela gostava de frisar), chegamos a conversar pelo telefone algumas vezes. Em uma dessas ocasiões, ela me ligou porque achou que eu estava de mal com ela porque a tinha removido como contato no del.icio.us. Conversamos por horas até ela ver que não tinha nada de errado entre nós. Depois que a adicionei de volta, ela me enviou um cartão virtual em agradecimento – um gesto bastante simpático de sua parte. Até hoje tenho esse e-mail marcado com uma estrela no Gmail (o que significa e-mails lidos, mas não respondidos). Senti-me mal ao constatar que não havia respondido não só este como mais de metade dos e-mails que recebi dela ao longo desses últimos anos. Agora é tarde demais.
Na época da “treta” com o Kid, ainda não conhecia a Tina. Mas acompanhei de perto a confusão com o Marcus – e embora tenha achado que, na ocasião, nenhum dos dois tivesse total razão (sorry, Marcus), foi a partir daquela situação que passei a compreender melhor a Tina – como um ser único, peculiar, com uma baita bagagem cultural, e que levava muito a sério os relacionamentos que mantinha na blogosfera (e talvez por isso ela acabasse se metendo em tanta confusão). Foi ela quem me apresentou a muitos dos blogs que acompanho atualmente. E aposto que muitos chegaram aqui a partir das recomendações insistentes dela.
Ela me perguntava várias vezes sobre as faculdades, sobre quando eu iria me formar, e chegou até mesmo a ler um dos meus trabalhos, dando-me sugestões de estilo e formatação. O último comentário que recebi dela neste blog, no próprio dia de sua morte, foi esse, me parabenizando pela formatura:
“Meus parabéns, Gabriela!
Passarei aqui daqui a 18 meses para dar parabéns de novo!
E agora, em que área você atuará?
Beijos e felcitações, uma vez mais.”
Infelizmente, ela não retornará daqui a 18 meses 🙁
Lamento pela morte, e espero que sua família – ela deixou marido e filho – consiga superar a perda.
A Tina, sem dúvida, fará muita falta para a blogosfera.
Finalizo o post com a frase com a qual ela me respondeu quando disse que não tinha tempo para fazer o mesmo que ela (comentar em seu blog diariamente):
“Você é responsável por aquilo que que cativa”.
Obrigada por tudo, Tina! E peço desculpas, ainda que tardias, por não ter dado em vida toda a atenção que merecias.

A Luciana, do Cintaliga, fez uma bela homenagem à Tina. O post do Doni também é belo – e critica aqueles que só se limitaram a falar mal da Tina, mesmo sem conhecê-la.
Mas também há o outro lado. Não dá para deixar de mencionar as tão aguardadas manifestações do Kid e do Marcus.

Jornalismo em uma nuvem de tags

Picture 1
Anteontem fiz um post sobre o TwitScoop. Em linhas gerais (para quem tiver preguiça de clicar no link para ler o post em si), trata-se de (mais) uma (dentre inúmeras) ferramenta criada a partir da API do Twitter, cujo diferencial é exibir uma nuvem de tags atualizada em tempo real com as palavras que estão sem mencionadas naquele instante no Twitter. Divertido, não?
Mas foi só depois de fazer o post que percebi o potencial dessa ferramenta para o jornalismo. No mesmo dia, cheguei a comentar no Twitter que fiquei sabendo de um terremoto nas Filipinas a partir do TwitScoop (veja a imagem acima). E hoje o Donizetti comentou que ficou sabendo de um atentado à embaixada norte-americana em Instambul pela mesma via.
O que há de interessante no TwitScoop, então, é que observar as tags aumentando e diminuindo de tamanho em tempo real não só pode nos revelar tendências do Twitter, como também permite acompanhar o estopim de grandes acontecimentos, em um autêntico crowdsourcing. Em síntese, trata-se não só de uma poderosa ferramenta de marketing, como também pode ser usado como uma ferramenta para o jornalismo.

Existe vida depois do TCC*

Depois de passar vários finais de semana em casa digitando no Word (com direito a ficar sabendo de um incêndio na esquina de casa através do MSN, e não pelo cheiro de queimado, ou pelo barulho das sirenes dos bombeiros), depois de várias madrugadas analisando contas do Twitter, depois de quase fazer este blog virar semente na capa da Verbeat… na sexta-fera, finalmente apresentei meu trabalho de conclusão de curso!
Nos últimos meses estive envolvida com a produção do trabalho, e tive que abrir mão de algumas atividades para dar tempo de fazer tudo. Um dos mais prejudicados foi este blog (e todas as demais atividades online conexas). Mas a imersão valeu a pena. Desde meados de agosto do ano passado, quando decidi o tema do trabalho (jornalismo no Twitter) até a última sexta, foram muitas leituras, muitas conversas e discussões sobre o tema, enfim, uma verdadeira primeira grande aventura científica.
Com a correria, não deu tempo de agradecer a todo mundo que contribuiu para o trabalho – desde o Jean-Luc Raymond, o primeiro a quem pedi sugestões de contas jornalísticas do Twitter, e que não só respondeu com contribuições, como também me enviou pelo correio um livro sobre jornalismo na era eletrônica, até, bem, eu não teria dado nem o primeiro passo se não fosse a Raquel Recuero ter concordado em orientar um trabalho à primeira vista mirabolante (querer fazer uma monografia sobre jornalismo no Twitter em agosto do ano passado não parecia algo muito, digamos, viável).
Nesta sexta-feira, apresentei o trabalho, com o resultado de minha imersão jornalística no Twitter. Exceto pelo fato de que é preciso colar grau (e de que o diploma, depois, deve ser levado a registro junto ao órgão do Ministério do Trabalho para que–ok, papo chato de regulamentação de profissão), já praticamente posso me considerar uma jornalista.
A apresentação foi bem tranqüila. Ou melhor, depois que passa tudo parece absurdamente simples. Tive uma excelente banca, com diversos apontamentos pertinentes. Gostaria de agradecer, em especial, a participação do professor Alex Primo, da Ufrgs, tanto pela leitura minuciosa do trabalho, como também – e principalmente – por ter aceitado o convite de participar da banca. As inquietações levantadas pelo professor Carlos Recuero também foram bastante instigantes.
Claro que nada disso teria sido possível não fosse a excelente orientação da Raquel, cujas recomendações, sugestões e críticas não só contribuíram para a produção deste trabalho em específico, como também reforçaram em mim a vontade de continuar pesquisando – servindo de base para constituir esse “protótipo de pesquisadora”, agora (praticamente) graduada, mas que pretende continuar em frente desbravando o ciberespaço.
Obrigada também aos que assistiram – como o Gilberto Consoni, o Jandré, e outros. A platéia era pequena, mas só estava lá quem realmente importava estar lá no dia 🙂 E eu ia transmitir por live streaming para o Jorge Rocha, mas no fim ele não me lembrou e acabei esquecendo. Aliás, obrigada, Jorge, por também levantar questionamentos pertinentes, ainda na fase de elaboração do trabalho. Ainda estou devendo uma incursão pela sociologia do jornalismo.
A programação deste blog deverá voltar ao normal (a normalidade é um conceito relativo) ao longo deste mês.

Em tempo: meu próximo TCC precisa ser entregue em agosto de 2009. É nisso que dá terminar um curso, mas continuar cursando outro. Tenho pelo menos mais um ano e meio de Direito pela frente. Na próxima semana ainda tenho algumas provas de segunda chamada, depois vêm as férias. Me formo, e 10 dias depois voltam as aulas!

* o título do post é em resposta à pergunta feita pela Ariadne Celinne pelo Twitter.

Blogagem coletiva contra o projeto substitutivo do Azeredo

contra PL azeredo2 Um adendo ao post anterior: o João Carlos Caribé propôs para o dia 19 de julho uma Blogagem Política Coletiva contra o projeto substitutivo proposto pelo senador Eduardo Azeredo. A idéia é postar em respostas às absurdas proposições do projeto de lei que busca restringir a circulação de informações em meios digitais criminalizando diversas condutas.
Ainda em reação ao projeto de lei, André Lemos e Sérgio Amadeu lançaram um Manifesto em Defesa da Liberdade e do Progresso do Conhecimento na Internet, já ratificado por dezenas de outros pesquisadores lá no blog do Sérgio Amadeu. Visite, leia, e assine também. O Caribé criou ainda uma petição online contra o projeto, e a Raquel Recuero fez um grupo no Facebook. Outra sugestão é que se envie e-mail para os senadores pedindo para que impeçam esse projeto de lei de ir adiante (parece que a votação está prevista para o dia 9 de julho).
É possível acompanhar os desdobramentos do protesto pelos blogs dos pesquisadores mencionados acima, e também pelo Twitter (#blogagempolitica, #ciberativismo).