Monthly Archives: February 2006

Filme: A Marcha dos Pingüins

Fui ao cinema assistir “A Marcha dos Pingüins” (La Marche de L’Empereur — o título francês é bem mais interessante) com apenas dois pressupostos básicos: tratava-se de um (1) documentário francês, no qual os (2) pingüins tinham fala. (Aos desavisados — apesar do título, não é um desenho animado da Disney!)
Em menos de 30 segundos de transmissão percebi também o porquê de o filme ser dublado em português — o Brasil só detém a tecnologia para fazer legendas cinematográficas na cor branca. Em um filme com cenário basicamente branco (neve por todos os lados), a conclusão óbvia a que se pode chegar é de que não haveria contraste suficiente das letras com o fundo. É o mesmo motivo pelo qual “A Era do Gelo” também só foi distribuído nos cinemas em cópias dubladas. Na exibição em televisão não há esse problema, pois as legendas podem ser (e geralmente são) na cor amarela. Mas, de qualquer maneira, seja em francês, inglês ou português, nada remove o fato inusitado de os pingüins falarem.
Quanto aos demais fatos do filme:

Pontos positivos:
É um ótimo indutor de sono.
Chama a atenção a incrível capacidade do cineasta Luc Jacquet em transformar uma rotina chata e monótona (a reprodução dos pingüins!! quer troço mais tedioso que isso?) em algo meigo e divertido.
A trilha sonora é curiosamente interessante — embora quase não dê para ler as legendas das músicas em fundo branco.
A proximidade com que a câmera consegue mostrar os pingüins, ao mesmo tempo que garante um bom nível de empatia (impossível não sentir pena quando um pingüim escorrega!), também causa espanto.

Pontos negativos:
Dentre as falas dos pingüinzinhos, faltou um “mamãe, eu te amo” 😛
Só dava para entender o início e o fim das falas infantis (o meio era a mais completa incógnita).
A idéia de simular a passagem do tempo com a repetição da mesma fala pelo macho e pela fêmea é tosca ao extremo.
Como em “Oliver Twist“, havia também um sol de photoshop.
A água era exageradamente azul, e a neve, exageradamente branca.
O filme é dublado.
Os pingüins são dublados.
A antropomorfização é levada a índices desnecessários.
Nunca torci tanto para um pingüim chegar logo ao mar!

Não tenho nada contra o gênero documentário (muito menos algo contra os pingüins!), mas, convenhamos, daria bem para terem condensado as cenas em cerca de digeríveis 15 minutos (no total, o filme tem 85). Aí sim ninguém dormiria no cinema! 🙂

Marcadores:

Sigilo em bate-papo

É bom tomar cuidado com o que se diz online. Em uma decisão inédita, o STJ julgou legal a quebra de sigilo em salas de bate-papo. O menor P. R. de A. teve seu pedido de habeas corpus negado pelo Superior Tribunal de Justiça com base no fato de que o ambiente virtual é de acesso irrestrito e destinado a conversas informais. Com isso, as informações obtidas pela Interpol a partir de bate-papos na internet puderam ser utilizadas como prova no processo contra o rapaz. A decisão abre precedentes para uma discussão sobre a falta de uma legislação específica para o assunto (– os crimes praticados na esfera virtual). Até quando os magistrados terão de se valer de pobres analogias para resolver os casos que envolvam a utilização do ciberespaço?

Marcadores:

Três livros

Ponto de ImpactoDan Brown

O livro é muito superficial, a história é completamente fragmentada (138 capítulos em pouco mais de 400 páginas!!), as personagens são estereotipadas, e o autor recorre a inúmeros clichês para reforçar seus pressupostos. Apesar de tudo, é um excelente romance para se ler em momentos de descontração e tédio (basta não levá-lo a sério!).
A trama gira em torno de uma incrível descoberta da NASA, e envolve diversos renomados cientistas (fictícios) que precisam arriscar a vida em nome da ciência. Muitos deles acabarão morrendo ao longo do livro — mas, como em todo livro de Dan Brown (generalizar é sempre uma coisa perigosa; considere que minhas conclusões advêm apenas desta leitura e da do incriativo ‘O Código da Vinci‘) o casal de personagens principais saem ilesos da perseguição, e, ainda por cima, terminam juntos no final (algo totalmente previsível, desde a primeira menção dos dois nomes em um mesmo parágrafo, logo no começo do livro).
A história envolve a corrida pela sucessão à presidência da república (norte-americana, é claro), uma crise política sem precedentes na agência espacial, e neve, muita neve. Teria potencial para ter um desfecho completamente diferente. No entanto, o autor preferiu terminar o livro de forma simples, previsível e sem graça.

O Nome da RosaUmberto Eco

Confesso que subestimei durante muito tempo o “poder das palavras” deste livro. Demorei para conseguir encará-lo de início ao fim, e apenas me arrependo de não tê-lo lido antes. Apesar de um resumo do livro ser capaz de afugentar a maior parte dos leitores em potencial (a história se passa numa abadia do século XIV, mais precisamente na biblioteca da mesma, e envolve a quebra da rotina dos monges por conta de alguns assassinatos misteriosos), a trama tem um aspecto policial e investigativo, que envolve o leitor do início ao fim. O desejo de saber quem é (ou o que é) responsável pelos assassinatos faz com que até seja interessante o efeito provocado pelas descrições pormenorizadas dos cenários e ações. É como se todo aquele detalhamento se fizesse necessário para afastar o início do livro de seu final, para tornar o desfecho ainda mais aguardado, e, finalmente, para transformar a história em algo especial. Além disso, o autor consegue incluir alguns preceitos básicos de sua teoria de semiótica em algumas passagens do livro (um subterfúgio muito interessante, que contribui bastante para enriquecer a história), e cita inúmeros autores contemporâneos aos personagens do livro como argumento de autoridade (o resultado é um efeito interessante, pois embora o leitor saiba tratar-se de uma ficção, a história se torna um tanto mais verossímil). A única coisa que deixa a desejar é o excesso de citações em latim, sem tradução. Mas com o tempo a gente já não se sente tão mais culpado em ter de saltá-las, ou então em lê-las sem nada compreender. (Ainda mais após ter lido “Seis Passeios pelos Bosques da Ficção“, do mesmo autor, no qual ele diz que inserir partes “puláveis” na história faz parte da técnica dos grandes autores.)
Um bom livro, afinal.

Quando Nietzsche ChorouIrvin D. Yalom

O livro é um desses romances psicológicos exageradamente intimistas, mas que tem o diferencial de desenrolar longos diálogos fictícios com personagens verdadeiros. O personagem principal é Nietzsche (sim, o filósofo) que se vê envolto em problemas de natureza física e psicológica, e, por insistência dos amigos (sem saber que se trata de um plano proposto por uma pessoa em específico) vai à procura de (mais) um médico para tratar-lhe as enxaquecas. Seu médico é Dr. Josef Breuer, mentor e amigo de Freud, que conta com a ajuda deste (ainda com vinte e poucos anos e começando a formular suas primeiras hipóteses e teorias acerca da psique) para desvendar os mistérios de como penetrar na mente do reservado e frio ‘Fritz’. Entretanto, o que acontece é uma verdadeira inversão de papéis entre médico e paciente, pois de tanto Nietzsche esquivar-se de ajuda e cura, é Dr. Breuer quem acaba se beneficiando por aconselhamentos filosóficos.
Um fato interessante é o misterioso caso dos personagens que simplesmente “trocam” de nome. Talvez por um erro de tradução ou de atenção (afinal, tratava-se apenas da 19ª edição do livro!), havia vezes em que Rachel virava Raquel, e que Bertha aparecia como Berta. E não, não enlouqueci – a confusão ocorre mais de uma vez. Okay, é apenas um dos pequenos deslizes da mais-que-bizarra tradução. Somente um leitor bem atento será capaz de perceber. Mas, mesmo assim, isso não é capaz de mudar a realidade do livro: ele é, com ou sem erros, morno, muito morno. Nem quente nem frio. Nem bom nem ruim. Apenas ‘médio’.

Se eu tivesse que colocar os livros acima em uma ordem de preferência, em primeiro viria O Nome da Rosa, seguido de Quando Nietzsche Chorou, e, por último, Ponto de Impacto. Mas ainda bem que ninguém me pediu para elaborar tal lista 😉

Marcadores:

Internet discada

Como uma das mais felizes remanescentes da era da conexão dial up (note-se a hora-padrão dos meus posts; quase sempre pós 00h ou em fins de semana) fiquei até contente em ler esta notícia. O governo está pensando em propor uma assinatura mensal fixa para acesso ilimitado à internet. Ou então em alargar a faixa de horário mais barato. Qualquer uma das opções é bastante vantajosa, e contribuiria — bastante — para a popularização da web 😀
(Okay, mas quanto tempo mesmo leva até uma prosposta ministerial virar lei?)

E termina o horário de verão…

Todo ano fico meio de cara com a chegada do horário de verão, pois o governo simplesmente nos toma 1 hora de nossas vidas com a promessa de economizar energia, mas não sem antes comprometer-se a restituí-la dentro de algum tempo. O chato é que a gente demora um tempão para recuperar nossa hora preciosa, e, ao menos no meu caso, fica fantasiando o que fazer quando ela (tão-aguardada, tão-esperada) enfim chegar.
O mais bizarro disso tudo é que o horário não necessariamente coincide com os meses de verão, ou algo do tipo. Neste ano, o “horário de verão” começou dia 16 de outubro de 2005 e terminou na meia-noite do dia 18 de fevereiro deste ano. O horário simplesmente termina e começa no meio do nada, conforme as conveniências políticas (dizem que é por questões de economia… dizem — então por que não adotar um “horário de todas as estações”, que adiante as horas o tempo todo e reduza o consumo de energia ad eternum? :P).
Mas enfim, a grande questão é que recebi minha hora de volta uma semana antes da data combinada, inadvertidamente, a bordo de um Fokker 100 da TAM*, e garanto que não foi nada confortável (aquele aviãzinho sacode muito!!). O fato é que nem tive muito tempo para pensar no que fazer na suposta “hora extra”, pois só fui descobrir que tinha ganhado (ou perdido) de volta a minha hora tomada em outubro do ano passado quando, já em terra firme, mais precisamente em um lugar não coberto pelo horário de verão (absurdo! Tantos brasis dentro de um só Brasil!), foi-nos alertado de que era necessário atrasar os relógios em uma hora. Foi mais como se a viagem tivesse durado duas horas ao invés de três: nada de duas meias noites, nada de uma sensação ilusória de se ter vivido uma hora a mais.
Mas tudo bem. O bom foi que o horário de verão serviu, de fato, para economizar alguma coisa. No Rio Grande do Sul, a economia de energia foi de 6,3%. No geral, o governo conseguiu atingir a meta de poupar 5% da eletricidade consumida (parece pouco, mas, em termos de “Jornal Nacional”, é o suficiente para abastecer uma cidade com 4,5 milhões de habitantes no horário de pico). Já em termos financeiros, a economia chegou a 1,1 milhões de dólares.

* Isso tudo me fez lembrar de uma velha piadinha — sazonal e sem graça —, lá da época (outubro de 1996) em que um avião da TAM (um Fokker 100, obviamente) caiu logo após a decolagem em S. Paulo:
Qual a diferença entre o avião que caiu, um louco e o Senna?
A resposta: O avião que caiu era da TAM. O louco é tantã. E o Senna é “tã tã tã”…
Ah, sei lá, a piada fica bem mais interessante quando contada ao vivo, por conta da sonoridade das palavras e da musiquinha 😛

Nepotismo

O Conselho Nacional de Justiça, cuja criação fora determinada pela Emenda Constitucional n° 45, de 30/12/2004, está causando alvoroço na Justiça do país. O órgão, criado em junho do ano passado para exercer o controle externo do Poder Judiciário, tem conquistado espaço na mídia e nos Tribunais por conta de uma resolução, publicada em novembro do ano passado, que concede o prazo de três meses para que todas as instâncias judiciárias do país demitam parentes que ocupem cargos em confiança de juízes e desembargadores.
A prática de “nepotismo” (ou seja, a contratação de parentes para ocupar cargos subordinados, ou “palavra de origem latina que significa favorito do papa, mas que virou sinônimo de favoritismo no funcionalismo público”, na definição do Google/Wikipedia) remonta desde a Antigüidade. A diferença é que, na acepção moderna, a palavra adquiriu um certo cunho político e um certo sentido negativo, pois geralmente os parentes conquistam empregos públicos, na modalidade de cargos em confiança, muitas vezes sem nenhum critério ou experiência). E é para acabar com isso que a Resolução nº 07 do CNJ apareceu. A partir da data limite estabelecida (em 14 de fevereiro completar-se-á o prazo estipulado) todo ato de contratação de parentes até terceiro grau será considerado nulo, e qualquer cidadão poderá denunciar ao CNJ os casos de nepotismo detectados.
A medida tem gerado muita revolta, principalmente por parte daqueles que se beneficiam atualmente pela prática de nepotismo (por quem mais seria?). Vários contratados nesse sistema têm recorrido a órgãos superiores de Justiça para evitar a demissão. Alguns chegam a alegar direitos inexistentes e supostas proteções absurdas. Houve até quem apelasse para o fato de que a resolução, em seu art. 2º, inciso I, quando define o que sejam práticas de nepotismo (“o exercício de cargo de provimento em comissão ou de função gratificada (…) por cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, inclusive”), está a legislar sobre Direito Civil, pois cria sua própria definição de parente — e isso estaria fora da área de competência do Conselho, o que tornaria a medida inconstitucional (!).
Injusta ou não, a medida é válida. Pode ser que alguns funcionários até tenham competência e mereçam ocupar cargos em confiança. Mas então, se são realmente bons, por que não fazem concurso público, como todo mortal que não tenha parentes no Judiciário? (‘Generalizar é sempre uma coisa perigosa’; mas, neste caso, é preciso generalizar, para que a justiça seja feita na Justiça brasileira…)

Marcadores:

Questões ministeriais

Que confusão! Adia a decisão, des-adia… Tem mais é que decidir logo o padrão de TV Digital a ser adotado no Brasil! 😛
Enquanto isso (falando em eficiência…), nosso Ministro da Cultura, cantor e compositor (versátil, não?) Gilberto Gil faturou mais um Grammy, desta vez pelo álbum Eletracústico, na categoria World Music (em 1999, Gilberto Gil conquistou o mesmo prêmio, pelo álbum Quanta live). Ninguém melhor para representar a Cultura Brasileira que o próprio Ministro da Cultura…

O Nome da Rosa

“No princípio era o Verbo e o Verbo estava junto a Deus, e o Verbo era Deus.” Já perdi a conta do número de vezes que li essa frase, a primeira do livro “O Nome da Rosa”, de Umberto Eco. Mas desta vez acho que vou até o final!… Decidi dar mais uma chance ao livro após ser acometida por uma crise de tédio sem precedentes (e sem motivo aparente, também, pois embora eu esteja no final das férias, meus dias não poderiam estar mais repletos de afazeres os mais diversos — paradoxo existencial?).
O que tinha me mantido afastada do livro (e que me impedia de ir adiante) era o fato de a história (parecer) ser (extremamente) tediosa (a vida em um monastério no século XIV? uhhh que empolgante!!). Mas foi só atravessar o limiar da página 30 (maldita página 30!) que tudo pareceu subitamente mudar de figura. Nas páginas, Eco não disfarça em nenhum instante que é um grande teórico da Comunicação que também se dedica à área da Semiótica (como quando, escancaradamente, o frade Guilherme de Baskerville fala: “Isto é o que não sei. Mas não esqueçamos que também há signos que parecem como tais e no entanto são privados de sentido, como blitiri ou bu-ba-baff…”), o que torna o livro ainda mais legal 🙂
Enfim, o livro parece ser bem legal (que a “eu” de dois anos atrás nunca fique sabendo que um dia eu disse isso!), e a história gira em torno do mistério de vários assassinatos no monastério. É como se fosse um CSI medieval às avessas, para se ler a qualquer hora do dia, qualquer dia que se queira e em qualquer lugar.

Marcadores: